domingo, 24 de janeiro de 2010

...porque há momentos assim...

...sou uma revoltada... já me disseram milhares de vezes que não consigo mudar o mundo, mas espero que o meu espírito crítico faça pensar algumas pessoas, pelo menos no meu local de trabalho... remar contra a maré é complicado, lutar para que as coisas melhorem às vezes parece impossível... sei que não sou perfeita, erro, e como é óbvio não sou detentora de toda a sabedoria! Alguém o será? Creio que não! Por isso fico irritada, com as pessoas que têm essa mania, que são os maiores e que sabem tudo... estão errados... esses são os que sabem menos, os que vêm superficialmente as coisas... as pessoas. Porque trabalho com pessoas, cuido de pessoas, porque se esquecem que um enfermeiro não dá só injecções e faz pensos, isso é o mínimo... porque estamos lá sempre quando alguém nasce e quando alguém morre... porque por vezes somos os únicos no momento da partida daquela pessoa, que foi deixada ao abandono no hospital... porque isso ninguém vê... porque ninguém conta o tempo que demoro a falar com aqueles familiares que sabem que o pai/marido vai morrer, porque pensam que passamos o dia no computador e na conversa... porque isso me revolta... porque não sabem o que é ser enfermeiro! Porque em 2 anos e pouco de trabalho mais 4 anos em estágios nunca tinha chorado daquela maneira, chorei de dor e de raiva, chorei porque não podia bater no médico, sim, essa era a minha vontade naquele momento! Porque se negligenciam os cuidados de saúde, principalmente quando se está a morrer... e a frase mais dita é já não há nada a fazer. Claro, que há alguma coisa a fazer, pode-se fazer sempre tudo... Imaginem-se a afogar, estão a ver a sensação, era assim que o doente estava... imaginem-se que sabem que vão morrer, estão a ver a ansiedade?! muitos não estarão sequer a imaginar, não conseguem ver a aflição daquela pessoa... Fui falar com o médico que estava de banco... foi ver o doente, faça-lhe o medicamento X (que já tinha em SOS e eu já sabia que não ia fazer efeito nenhum), então ri-me... e ele perguntou-me se tinha ficado desiludida? claro que fiquei, queria que sedasse o doente! Ah, mas vamos aguardar... claro que aguardei o tempo necessário, para saber que aquilo era literalmente águinha que lhe estava a dar... fui falar novamente com ele, lá estava ele na sua poltrona a jogar computador e a falar ao telemóvel... sabe, aquela medicação como é óbvio não surtiu efeito não quer precrever mais nada? ahhhh dá-lhe o medicamento Y, abanei a cabeça com insatisfação e fui... administramos essa medicação passado 10 minutos o doente morre nas minhas mãos e nas da assistente operacional... chorei, como só algumas vezes choro assim... a raiva era tanta que naquele momento apetecia-me partir alguma coisa, bater naquele médico, que com tantos conhecimentos (ou pelos vistos não!) permaneceu a jogar às cartas! O pior foi chegar ao pé de mim e dizer, agora fiquei com o peso na consciência da sedação... mas a ética... E eu pergunto: será ético deixar morrer uma pessoa em sofrimento?! nem olhei para a cara dele... Ao B.P que tanto me fazia sorrir quando aqueles olhos azuis brilhavam :)