terça-feira, 27 de abril de 2010

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...pensava que ias mais cedo, e pedi que permanecesses mais uns dias até regressar de folgas... percebi que nós éramos as únicas a saber o que ia acontecer a seguir... quando regressei, ali continuavas tu à minha espera como tinhas prometido... sempre serena, de olhos fechados...à espera de algo que tu já sabias que ia acontecer... eu, ia ver-te todos os dias, queria que sentisses que eras importante para mim...
Como gostei que tivesses reparado na minha mudança... ao contrário de mim... que me custou acreditar que eras tu... magra, pálida, deformada... só consegui reconhecer-te pelo teu olhar, esse continuava igual...
Não consegui perceber porque te causaram tanto sofrimento... porque todos os dias eras picada... porque tiveste que "levar" plaquetas e sangue e tudo o resto, porque te entubaram, porque estavas com o monitor ao lado... não percebi... continuo a não perceber... lutei para que isso não acontecesse... mas quem sou eu... não sou médica... nem sou da tua família...
Arrependo-me de não ter satisfeito o teu pedido... querias que te tirasse a sonda, já que estavas tão feliz porque tinhas conseguido comer pela boca a melhor sopa de sempre... era o que te devia ter feito... só tinha que inventar uma desculpa para poder justificar à médica porque já nao tinhas aquele tubo pendurado no nariz... enquanto ela pelos vistos queria fazer experiências... curar o que não se podia curar... e te deixar seguir em paz e tranquilidade...
Quando cheguei não sabia que tinhas partido, ninguém me tinha dito... e como sempre fui ver-te... entrei na sala e a tua cama estava vazia... pensei que tivesses ido fazer mais algum exame ou "alguma tortura"... perguntei por ti e obtive a resposta que não queria ouvir... partis-te sem te despedires de mim... continuo triste... mas vais ficar sempre guardada num lugarzinho especial...
À minha amiga M.C.R